Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes | Franquia retorna em prequel revigorante e relevante

Review do novo filme da franquia Jogos Vorazes por Breno Kallew




Filmes, GiroNerd

A franquia “Jogos Vorazes” foi um dos grandes fenômenos cinematográficos da década passada. Parte de leva das sagas herdeiras do vácuo deixado por ‘Harry Potter’ nas telonas, o épico político baseado nas obras excepcionais da autora Suzanne Collins adaptou os três volumes mostrando o início, meio e fim da revolução dos treze distritos contra a opressão da capital Panem, comandada pelo Presidente Corialanus Snow.

E nesse retorno, ‘Jogos Vorazes: A Balada dos Pássaros e das Serpentes’, vai até a juventude do enigmático e tirânico Presidente Snow, para mostrar a jornada inicial do personagem e estabelecer a base do que ele viria a ser no futuro.

Na sinopse, anos antes de se tornar o presidente de Panem, Coriolanus Snow, de 18 anos, vê uma chance de mudar sua vida e da sua família quando se torna o mentor de Lucy Gray Baird, o tributo feminino do Distrito 12.

Uma qualidade que a saga sempre teve destacada é a direção, especialmente a partir do ‘Em Chamas’, e aqui, o cineasta Francis Lawrence mantém o nível. Lawrence prioriza o que há de melhor na produção: desenvolvimento de personagens, a idealização de conceitos político-sociais e a ligação intrínseca entre os dois fatores. O diretor conduz habilmente o texto e fixa a produção num espectro semelhante aos filmes anteriores, embora tenha suas próprias particularidades.

A visão única do cineasta também é bastante aproveitada pelo elenco. Tom Blyth faz sua própria versão do Corialanus Snow ao investir na dualidade do personagem principal; alguém que possui senso de empatia e justiça, mas que está disposto a fazer qualquer coisa para sobreviver na arena que é o mundo distópico. Rachel Zegler explora o lado musical com
excelência, ao mesmo tempo em que mistura sagacidade e delicadeza na sua Lucy Gray. Hunter Schafer e Peter Dinklage estão igualmente bem nos papéis de Tigris Snow e Reitor Casca Highbottom; este possui um quê de Tyrion Lannister de ‘Game of Thrones’. A Dra. Volumnia Gaul, interpretada por, Viola Davis domina quando está em cena ao subverter o papel de cientista maluca e criar a vilã sem escrúpulos perfeita para a trama.

A relação entre Snow e Lucy Gray é o motor da narrativa, onde, no decorrer as controvérsias do protagonista são expostas e faz tudo evoluir em direção a um caminho nebuloso, porém, familiar. A rica capital é povoada por pessoas desprezíveis que bestializam os miseráveis vindo
dos Distritos, ou seja, o ambiente propício para trabalhar essa parte da mentoria de privilegiados às massas indo ao abate – questão também bem desenvolvida pelo bom elenco de apoio.

De forma linear, a montagem mostra não apenas os passos de Snow desde o início, mas os primórdios dos Jogos Vorazes. Nesta prequel, os jogos ainda são um protótipo distante daquela conhecida versão de um cruel espetáculo midiático. A representação expõe, entretanto, que a participação da mídia na composição do principal entretenimento da capital é identicamente cínica e desumana para com os tributos.

Tal qual os demais volumes da franquia, esse filme exibe fortes visuais de distopia com base no steampunk colorido e retrofuturista estampado nos figurinos, edifícios, ambientações, equipamentos e visuais; ponto para a acertada Direção de Arte.

Contudo, por vezes, a nova adaptação se estende mais do que o necessário em duração. Se erraram ao dividir o último livro de Jogos Vorazes em dois filmes, em ‘A Balada dos Pássaros e das Serpentes’, a decisão de organizar a história em duas partes para o cinema poderia
prevenir o excesso sentido nas 2h38min. Embora não seja comprometedor, o problema limita o impacto dos momentos finais.

Além de voltar ao passado, A Balada dos Pássaros e das Serpentes se preocupa em resgatar a franquia de forma revigorante e relevante através da figura do Presidente Snow, ao colocá-lo no lugar comum e construir suas ambições tão narcisistas quanto perigosas, tal qual vários ditadores do mundo real.